Um CONVITE para uma narrativa servida pelo movimento
O cenário é de intimidade. Dentro de casa, bem no interior, duas mulheres dançam. Uma parede aberta surge como uma janela rasgada que revela movimentos, estados de espírito e vivências num espetáculo sem texto, em que o diálogo é também feito sem palavras, em que a narrativa é servida pelos corpos e pela música.
Na dança está a mensagem; o cenário é contexto.
Apresentado ao público escolar e à comunidade em geral, na Casa da Cultura, no final de fevereiro, o espetáculo de dança contemporânea “Convite” que conta com música original tocada ao vivo, teve o seu primeiro período de pesquisa em Santa Comba Dão, no Conservatório de Música e Artes do Dão.
O trabalho desenvolvido entre a coreógrafa e intérprete Filipa Peraltinha, a bailarina Catarina Casqueiro, e os músicos Artur Guimarães e Rodolfo Cardoso - criação musical e interpretação – resultou numa criação / instalação artística, que convidou o público a estabelecer uma ligação, um relacionamento, próximo e orgânico, com a dança, a música e as partículas de luz no espaço cénico.
Em palco, duas mulheres (ou seria a mesma?) desvendam gestos e sentimentos, expõem fragilidades, o vazio da existência, exaltam a poesia, a memória, mas também falam de resistência e medo. O corpo pede, recebe, afasta, reprime e repudia, mas também deseja; surge como uma extensão do ser contido entre quatro paredes, numa analogia com uma das mais recentes experiências da humanidade.
Nas duas áreas em que a narrativa se desenvolve mostra-se o espaço individual e reservado de cada ação, mas é a visão global que dá a perspetiva do lugar paralelo para cada uma das ideias apresentadas.
O diálogo criado entre bailarinas e músicos convida à imersão do público com a intimidade dos movimentos no palco, reveladores de um devir constante, de vidas a acontecer em dois planos, em momentos diferentes. E a alternância entre a contenção e a explosão libertária de movimentos surge quase como um reflexo da nossa maneira de nos relacionarmos com o mundo.
A sinopse acresce que “somos sempre assaltados com maior brutalidade nos episódios em que a vida nos leva o fôlego, por alegria ou comiseração, e o corpo serve de contentor à dor ou qualquer forma de amor quase intolerável.
Os entretantos, o tempo que sobra, nada disto é extraordinário, porque não tem peso, nem voz, nem textura, é só a vida a correr, sem que a sintamos nossa.
Somos mais nós quando estamos desassossegados”.
Este Convite para uma performance de dança contemporânea foi dirigido a um público vasto e intergeracional, com particular enfoque nos mais jovens, na convicção do papel fulcral da arte na educação e no desenvolvimento pessoal das crianças e jovens, como peça essencial para a construção de uma sociedade mais livre, criativa e inclusiva.
Em todas as sessões com alunos, os bailarinos e músicos saíram do palco e dialogaram com o público. As questões e perspetivas do espetador foram motor de diálogo, tendo havido partilha de informação e detalhes sobre elementos chave do processo criativo e sobre o desenrolar do próprio espetáculo.
Mais uma marca de excelência no percurso do CMAD, Convite envolveu reconhecidos profissionais da dança e música.
O espetáculo foi um dos primeiros momentos da agenda do 14.o Festival de Música e Artes do Dão (FMAD) - financiado pela Direção-Geral das Artes, no âmbito do concurso de Apoio a Projetos de Programação. O FMAD estende-se até ao final do ano, com uma programação ampla e diversificada, pautada pela qualidade artística e cultural, que queremos partilhar com o nosso público.
A criação desta peça e cinco apresentações tiveram o apoio do Ministério da Cultura - Fundo de Fomento Cultural, através do Programa Garantir Cultura.
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